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Cláudia Dadalt

Cláudia Dadalt

Psicóloga e Psicanalista

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VIII – A LINHA E A LUZ

31 de março de 2021 by Sistema

O que nos ficou do capítulo anterior e que Lacan irá tentar nos mostrar agora é que o sujeito apreende ao olhar, o desejo do Outro e se apreende nesse desejo.

“[…] No quadro de Holbein, logo lhes mostrei – sem mais dissimular, do que tenho o hábito de fazer, a outra face das cartas – o singular objeto flutuando no primeiro plano, que está lá para olhar, para pegar, quase diria, para pegar na armadilha, aquele que olhar, quer dizer nós. […] enquanto sujeito, estamos para dentro do quadro literalmente chamados, e aqui representados como pegos.” (p.91).

Retorna uma vez mais ao quadro pintado por Holbein – e a todas as suas ressonâncias simbólicas; para nos dizer o quanto cada um de nós e o próprio Lacan, foi capturado por ele.

“[…] Ele nos reflete nosso próprio nada, na figura do crânio de caveira. Utilização, portanto, da dimensão geometral da visão para cativar o sujeito, relação evidente ao desejo que, no entanto, resta enigmático.” (p.91)

A seguir Laca irá usar da teoria de várias ciências como a Filosofia, Geometria, Fisiologia, Arte, Pintura e outras; para nos mostrar a dimensão da questão da visão. Tentando nos mostrar a dicotomia entre o olho e o olhar, e a forma como eles incidem na formação do sujeito.

Para tanto vai aludir a sua estória, quando estava a pescar e seu colega de pescaria lhe chama a atenção para uma lata de sardinhas que boiava na superfície das ondas, e respelhava ao sol:

“[…] E Joãozinho me diz: – Tá vendo aquela lata? Tá vendo? Pois ela não está te vendo não.” (p.94)

Lacan aponta para o fato, que na situação em que se encontrava, ele Lacan destoava do quadro.

“[…] O vulto desta estorinha, tal como ela acabava de surgir na invenção do meu parceiro, o fato de tê-la achado tão engraçada, e eu, menos, se prende a que, se me contam uma estória como essa, só pode ser mesmo porque eu, naquele momento – tal como eu me pintava, com aqueles caras que ali ganhavam penosamente sua existência, na refrega com o que era para eles a rude natureza – eu, eu fazia quadro de uma maneira bastante inenarrável. Para dizer tudo, por mínimo que fosse, eu era mancha no quadro. E é mesmo sentir isso que faz com que, só por me ouvir interpelar assim, nessa estória humorística, irônica estória, não a acho tão engraçada assim.” (p.94)

Lacan nos coloca aqui o quanto é a partir do olhar do Outro que somos constituídos, nos emolduramos assujeitados a esse olhar, para nos constituirmos enquanto sujeitos.

“[…] O correlato do quadro, a situar no mesmo lugar que ele, quer dizer, do lado de fora, é o ponto de olhar. Quanto ao que, de um ao outro, faz mediação, o que está entre os dois, é algo de natureza diversa da do espaço ótico geometral, algo que representa um papel exatamente inverso, que opera, não por ser atravessável, mas ao contrário, por ser opaco – é o anteparo, o écran. No que se apresenta a mim como espaço da luz, o que é o olhar é sempre algum jogo da luz com a opacidade. É sempre esse respelhamento que estava lá ainda há pouco no coração de minha estorinha, é sempre o que me faz conter, em cada ponto, de ser anteparo, de fazer aparecer a luz como cintilação, que o transborda. Para dizer tudo, o ponto de olhar participa sempre da ambiguidade da joia. E eu, se sou alguma coisa no quadro, é também sob essa forma de anteparo, que ainda há pouco chamei de mancha.” (p.95)

Ao continua sua digressão por todas as teorias, já mencionadas, Lacan vai se perguntar: – o que é a pintura?

“[…] Não é por nada, evidentemente, que chamamos de quadro a função em que o sujeito tem que se discernir como tal. Mas quando o sujeito humano se engaja em fazer um quadro, em obrar essa coisa que tem por centro o olhar, do que é que se trata então? No quadro o artista, nos dizem alguns, quer ser sujeito, e a arte da pintura se distingue de todas as outras pelo fato de que, na obra, é como sujeito, como olhar, que o artista pretende, a nós, se impor.” (p.98)

E a seguir se questiona, qual a função do quadro, e nos diz que pode se resumir desta forma:

“[…] Queres olhar? Pois bem, veja então isso! Ele oferece algo como pastagem para o olho, mas convida aquele a quem o quadro é apresentado a depor ali seu olhar, como se depõe as armas. Aí está o efeito pacificador, apolíneo, da pintura. Algo é dado a ver, não tanto ao olhar quanto ao olho, algo que comporta abandono, deposição do olhar.” (p.99)

Lacan vai nos dizer, que aqui vamos encontrar um problema, com a pintura expressionista (1).

“[…] Esta, e é o que a distingue, oferece algo, que vai no sentido de uma certa satisfação – no sentido em que Freud emprega o termo quando se trata de satisfação da pulsão – de uma certa satisfação ao que é pedido ao olhar.” (p.99)

E aqui Lacan nos chama a atenção para a questão da dicotomia entre o olho e o olhar.

Quinet (2002) irá dizer o seguinte:

“[…] O olhar em questão em psicanálise não é um olhar do sujeito e sim um olhar que incide sobre o sujeito, é um olhar que o visa: olhar inapreensível, invisível, pulsional. O olhar é um objeto apagado do mundo de nossa percepção, que não deixa, no entanto, de nos afetar: a visão predomina sobre o olhar excluindo-o do campo do visível. Nessa separação entro o olho e o olhar encontra-se a esquize do sujeito em relação ao campo escópico no qual se manifesta a pulsão. A pulsão está na base do “dar-a-ver” do sujeito e o afeta através de um olhar que o objetiva e ao mesmo tempo se encontra excluído da visão” (p.41)

E a seguir Lacan vai nos fazer olhar para o que se dá na experiência do inconsciente, em função de este ter-se originado também pela pulsão escópica.

“[…] É na medida em que, no coração da experiência do inconsciente, lidamos com esse órgão – determinado no sujeito pela insuficiência organizada no complexo de castração – que podemos perceber em que medida o olho é tomado por semelhante dialética. Desde a primeira aproximação, vemos, na dialética do olho e do olhar, que não há de modo algum, coincidência, mas fundamentalmente logro. Quando, no amor, peço um olhar, o que há de fundamentalmente insatisfatório e sempre falhado, é que – Jamais me olhas lá de onde te vejo. Inversamente, o que eu olho não é jamais o que quero ver.” (p.100)

Ao que vai nos dizer que aqui o que ocorre é um jogo – um jogo de trompe-l’oeil (2).

Ao que Lacan dirá que o que ocorre aqui é o “triunfo, sobre o olho, do olhar.

Ao responder, a questão de M. Safouan: – Mais-além da aparência, há a falta, ou o olhar? Lacan nos dá a seguinte resposta, que transcrevo aqui, porque penso, que resume de forma apreensível, o que colocou até aqui.

“[…] No nível da dimensão escópica, na medida em que a pulsão aí esteja em jogo, se reencontra a mesma função do objeto a que é discernível em todas as outras dimensões.

O objeto a é algo de que o sujeito, para se constituir, se separou como órgão. Isso vale como símbolo da falta, quer dizer, do falo, não como tal, mas como fazendo falta. É então preciso que isso seja um objeto – primeiramente separável – e depois, tendo alguma relação com a falta. Vou já encarnar para vocês, o quero dizer.

No nível oral, é o nada, no que aquilo de que o sujeito foi desmamado não é nada mais para ele. Na anorexia mental, o que a criança come é o nada. Vocês percebem, por esse viés, como o objeto do desmame pode vir a funcionar, no nível da castração, como privação.

O nível anal é o lugar da metáfora – um objeto por um outro, oferecer as fezes no lugar do falo. Aí vocês percebem por que a pulsão anal é o domínio da oblatividade, do dom e do presente. Lá onde somos pegos desprevenidos, lá onde não podemos, por motivo da falta, dar o que temos que dar, temos sempre o recurso de dar outra coisa. É por isso que, em sua moral, o homem se inscreve no nível anal. E isto é verdadeiro muito especialmente quanto ao materialista.

No nível escópico, não estamos no nível do pedido, mas do desejo, do desejo do Outro. É o mesmo no nível da pulsão invocadora, que é a mais próxima da experiência do inconsciente.

De maneira geral, a relação do olhar com o que queremos ver é uma relação de logro. O sujeito se apresenta como o que ele não é e o que se dá para ver não é o que ele quer ver. É por isso que o olho pode funcionar como objeto a, quer dizer, no nível da falta (menos fi).” (p.101/102)

Para finalizar, diz que é sobre a função do olho e do olhar que irá prosseguir da próxima vez.

Arquivado em: Seminário XI

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