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Cláudia Dadalt

Cláudia Dadalt

Psicóloga e Psicanalista

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O Narcisismo e a formação do eu

9 de outubro de 2018 by Sistema

Freud utilizou o mito de NARCISO para formular o conceito de Narcisismo.

Eco e Narciso – O Mito

Eco era uma bela ninfa, amante dos bosques e dos montes, onde se dedicava a distrações campestres. Era a favorita de Diana e acompanhava-a em suas caçadas. Tinha um defeito, porém: falava demais e, em qualquer conversa ou discussão, queria sempre dizer a última palavra.

Certo dia, Juno saiu à procura do marido, de quem desconfiava, com razão, que estivesse se divertindo com as ninfas. Eco, com sua conversa conseguiu entreter a Deusa, até as ninfas fugiram. Percebendo isto, Juno a condenou com estas palavras:

— Só conservarás o uso dessa língua com que me iludiste para uma coisa de que gostas tanto: responder. Continuarás a dizer a última palavra, mas não poderás falar em primeiro lugar.

A ninfa viu Narciso, um belo jovem, que perseguia a caça na montanha. Apaixonou-se por ele e seguiu-lhe os passos. Quanto desejava  dirigir-lhe a palavra, dizer-lhe frases gentis e conquistar-lhe o afeto! Isso estava fora de seu poder, contudo. Esperou, com impaciência, que ele falasse primeiro, a fim que pudesse responder. Certo dia, o jovem, tendo se separado dos companheiros, gritou bem alto:

— Há alguém aqui?

— Aqui — respondeu Eco.

Narciso olhou em torno e, não vendo ninguém, gritou:

— Vem!

— Vem! — respondeu Eco.

— Por que foges de mim? — perguntou Narciso.

Eco respondeu com a mesma pergunta.

— Vamos nos juntar — disse o jovem.

A donzela repetiu, com todo o ardor, as mesmas palavras e correu para junto de Narciso, pronta a se lançar em seus braços.

Afasta-te! — exclamou o jovem recuando. — Prefiro morrer a te deixar possuir-me.

— Possuir-me — disse Eco.

Mas tudo foi em vão. Narciso fugiu e ela foi esconder sua vergonha no recesso dos bosques. Daquele dia em diante, passou a viver nas cavernas e entre os rochedos das montanhas. De pesar, seu corpo definhou, até que as carnes desapareceram inteiramente. Os ossos transforam-se em rochedos e nada mais dela restou além da voz. E, assim, ela ainda continua disposta a responder a quem quer que a chame e conserva o velho hábito de dizer a última palavra.

A crueldade de Narciso nesse caso não constituiu uma exceção. Ele desprezou todas as ninfas, como havia desprezado a pobre Eco. Certo dia, uma donzela que tentara em vão atraí-lo implorou aos deuses que um dia ele viesse a saber o que é o amor e não ser correspondido. A deusa da vingança ouviu sua prece e atendeu-a.

Havia uma fonte clara, cuja água parecia de prata, na qual os pastores jamais levavam os rebanhos, nem as cabras monteses frequentavam, nem qualquer um dos animais da floresta. Também não era a água enfeada por folhas ou galhos caídos das árvores; a relva crescia viçosa em torno dela, e os rochedos a abrigavam do sol. Ali chegou um dia Narciso, fatigado da caça, e sentindo muito calor e muita sede. Debruçou-se para desalterar-se, viu a própria imagem refletida na fonte e pensou que fosse algum belo espírito das águas que ali vivesse. Ficou olhando com admiração para os olhos brilhantes, para os cabelos anelados como os de Baco ou de Apolo, o rosto oval, o pescoço de marfim, os lábios entreabertos e o aspecto saudável e animado do conjunto. Apaixonou-se por si mesmo. Baixou os lábios, para dar um beijo e mergulhou os braços na água para abraçar a bela imagem. Esta fugiu com o contato, mas voltou um momento depois, renovando a fascinação. Narciso não pode mais conter-se. Esqueceu-se de todo da ideia de alimento ou repouso, enquanto se debruçava sobre a fonte, para contemplar a própria imagem.

— Por que me desprezas, belo ser? — perguntou ao suposto espírito — Meu rosto não pode causar-te repugnância. As ninfas me amam e tu mesmo não pareces olhar-me com indiferença. Quando estendendo os braços, fazes o mesmo, e sorris quando te sorrio, e respondes com acenos aos meus acenos.

Suas lágrimas caíram na água, turbando a imagem. E, ao vê-la partir, Narciso exclamou:

— Fica, peço-te! Deixa-me, pelo menos, olhar-te, já que não posso tocar-te.

Com estas palavras, e muitas outras semelhantes, atiçava a chama que o consumia, e, assim, pouco a pouco, foi perdendo as cores, o vigor e a beleza, que antes tanto encantara a ninfa Eco. Esta se mantinha perto dele, contudo, e, quando Narciso gritava: “Ai, ai”, ela respondia com as mesmas palavras. O jovem, depauperado, morreu. E, quando sua sombra atravessou o rio Estige, debruçou-se sobre o barco, para avistar-se na água.

As ninfas o choraram, especialmente as ninfas da água. E, quando esmurravam o peito, Eco fazia o mesmo. Prepararam a pira funerária, e teriam cremado o corpo, se o tivessem encontrado; em seu lugar porém, só foi achada uma flor, roxa, rodeada de folhas brancas, que tem o nome e conserva a memória de Narciso.

(O livro de Ouro da Mitologia – Thomas Bulfinch)

A origem do eu

A partir desse mito grego, Freud propõe um modelo para entender o que seria a origem do Eu. A psicanálise entende que quando nascemos não temos de início um Eu, temos esquemas corporais.

Freud vai dizer que o Eu, tem de ser desenvolvido, precisamos passar por uma experiência que forma o Eu, essa experiência é o Narcisismo.

Esse ato psíquico, essa experiência está situada entre:

  • Auto erotismo: um momento inicial em que as pulsões tendem a sua livre satisfação, e atuam de forma independente;
  • Eu ideal: é um momento de amor ao objeto – em que eu posso amar e escolher o outro como uma totalidade. Aqui, somos nós como objeto, objeto para o outro, aquilo que completa a expectativa que o outro tem sobre nós e responderia ao que o outro espera da gente.

Entre um modo de relação e outro, aparece essa fase intermediária chamada Narcisismo.

NARCISISMO: tentativa de dar consistência à dispersão corporal por meio de certa unidade corporal representada pelo eu ideal. Relação que o sujeito tem com a sua própria imagem.

O narcisismo envolveria então, agora passando para a leitura que Lacan faz desse conceito, a partir do texto Estádio do Espelho Formador da Função do Eu (1949), pode ser entendido como uma identificação e decorre de uma mudança de relação com a imagem.

Há três tempos:

  • Primeiro tempo: o sujeito enxerga sua imagem no espelho, mas ele entende que essa imagem é o outro.
  • Segundo tempo: esse momento de relação com a imagem está marcado pelo transitivismo – há uma indeterminação de quem é que está olhando e quem está sendo olhado, quem vê e quem está sendo visto, há uma certa descoberta dessa relação de reciprocidade e também uma certa desorientação do Eu nessa relação.
  • Terceiro tempo: nesse momento da relação com a imagem acontece uma simbolização – o Eu surge como reconhecimento de que aquela imagem simboliza algo, que é o próprio Eu.

Portanto o Eu nasce aí e tem uma estrutura dual, não é que tem o eu e a imagem, o Eu é essa dupla formada por aquele que fala e aquele que escuta. É uma estrutura dual, e tudo isso se chama Eu.

Essa formação narcisista vai gerar duas novas instâncias psíquicas:

  • EU IDEAL:  que é aquela porção de nós mesmos, que vai permanecer como uma espécie de solução imaginária para essa divisão de solução de completamento satisfatório em si mesmo, que é a imagem que perseguimos e trataria esse descompasso que temos em relação a nós mesmos, ao próprio corpo, a imagem que produzimos de nós mesmos. Ela é sempre inadequada, insatisfatória, porque estamos perseguindo o Eu ideal, que jamais pode ser alcançado.
  • IDEAL DO EU:  é uma instância secundária é formada a partir do complexo edípico e tem haver com uma substituição simbólica desse narcisismo primário. Nos diz como devemos ser como um ideal tomando algo ou alguém, uma ideia ou um valor, para poder autorizar o nosso próprio desejo. Ele diz como eu devo me aproximar, como eu devo ser para poder desejar; para poder desejar aquilo com que eu me identifico. Com as instâncias parentais o ideal do eu é uma espécie de substituto dessa cena inicial em que nossos pais são seres supremos em bondade, poder, autoridade, e que em algum momento temos que reconhecer, que eles também são seres humanos e substituí-los por outras instâncias que os representem. Possibilita que continuemos a desejar os ideais que vão se acrescentando em nossa vida, eles são sempre respostas aos ideais simbólicos de emancipação, autonomia e independência. São esses ideais que nos regulam o desejo a partir dessa posição chamada Ideal do Eu. Assim, o Ideal do Eu apresenta-se para nós como formador dos nossos ideais reguladores. Aquilo do qual nós tentamos nos aproximar, aquilo pelo qual nos orientamos, nosso horizonte. Portanto, o Ideal do Eu nunca se alcança, e a função dele é justamente essa, permanecer como um farol, como algo que ilumina o caminho do nosso desejo.

Arquivado em: Psicanálise e Velhice

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