Desde o início da vida tentamos conquistar
o amor do Outro, nos tornando ideal para
ele. Passando nossa vida adulta a realizar
ideais que nem sempre nos satisfazem.
Tal qual as borboletas vamos nos
metamorfoseando e, no entardecer da
vida percebemos que, podemos criar asas
á beira do abismo, ou seja, reinventar-nos
para viver esse crepúsculo.
Falamos no encontro passado sobre a constituição do Eu.
A primeira etapa é a do auto erotismo, na qual o sujeito está inserido no Real de um corpo. Passando para a fase do Narcisismo, a qual representa a tentativa de dar consistência a dispersão corporal, tem haver com a relação que temos com a nossa imagem; portanto está inserido no Imaginário. Seguido pelo Eu ideal que é a fase em que tentamos dar uma solução imaginária a nossa incompletude.
Passando para um tempo onde se entra no simbólico, na fase do Ideal do eu, que será uma substituição simbólica do narcisismo primário; o Ideal do Eu é o que marca a entrada do sujeito ao simbólico em função de uma Falta, que este descobre no Outro e que percebe que não poderá obturar, fato que irá abrir para o sujeito a possibilidade de aceder ao desejo.
Simbólico, vamos nos referir a linguagem e todos os significantes que através desta são veiculados. A falta que se coloca através do simbólico, irá liberar o sujeito para metaforizar a metonímia do desejo.
Assim a Velhice, nos diz Ângela Mucida, “… é o momento no qual, prevalecendo um determinado enfraquecimento – variável para cada sujeito – do tempo presente devido a um afrouxamento dos laços afetivos, sociais e inúmeras perdas, imporia ao sujeito a criação de novas formas de atualizar seu passado enlaçando-o ao futuro”
Portanto Velhice pode ser também um dos nomes do Real e, também “… um significante que representa um sujeito para outro significante.”.
Aposentadoria, menopausa, andropausa, rugas, cabelos brancos, perdas, lutos…. fazendo-nos refletir sobre as representações sociais que a velhice apresenta.
Assim constatamos como o simbólico é determinante na vida do sujeito, antes de qualquer formação deste ele já é falado. Para Lacan: “… isso conta, é contado e no contado já está o contador. Só depois é que o sujeito tem que se reconhecer ali como contador.”.
Na velhice é importante o sujeito se reconhecer como o contador de sua história, porque a tendência da sociedade é privar o idoso de sua posição de sujeito desejante.
Assim, acentua-se que a Velhice é efeito do discurso.
Qual o olhar que a cultura lança para a Velhice ao longo do tempo?
Nas culturas muito arcaicas a experiência do velho não tem importância, pois não há tradição a ser transmitida. Assim os velhos são abandonados à morte. Algumas sociedades primitivas valorizam o velho, dá-se importância ao seu saber e esses são respeitados. O que se viu nestas culturas rudimentares é que as crianças são bem tratadas e este amor permanece em relação aos mais velhos, o bom relacionamento entre pais e filhos reflete no tratamento ao idoso. Nas sociedades ricas os idosos, tem mais condição de subsistência, O saber nas sociedades mais complexas também traz respeito.
Conclui-se que a antiguidade foi muito dura com a infância e a velhice.
O conceito de velhice surge depois da revolução industrial.
Entre o horror, decrepitude e o sagrado a velhice vai sendo colorida de várias formas, lançando o velho no mal-estar.
Na cultura atual impera a promessa de bem-estar e envelhecer sem sofrimento.
Esse discurso tenta negar a realidade da existência, que é de que o caminho da vida nos leva a morte, assim como que a vida é feita tanto de prazer e felicidade quanto de desprazer e sofrimento.
Messy(1999) diz que a pessoa idosa não existe, o que vivemos é uma série de registros corporais que fornecem características de que somos transpassados pelo tempo, criando assim um termo social, idoso e velhice, mas que em muito se distancia da realidade humana. Sendo assim não existe um idoso ou um velho, de comportamento e perfil pré-estabelecido, mas sim alguém que carrega em si as marcas de sua existência.