Lacan encerra o capítulo anterior nos dizendo que o olho pode funcionar como objeto a, no nível da falta (menos fi), e vai iniciar este pontuando que:
“[…] Tenho então hoje que manter a aposta em que me engajei ao escolher o terreno em que o objeto a é mais evanescente em sua função de simbolizar a falta central do desejo, que sempre indiquei de maneira unívoca pelo algoritmo menos fi.” (p.103)
Isto para evidenciar o fato de que no olhar temos uma questão relacionada a constituição do desejo, e para tanto é necessário se deparar com a falta do Outro, desta forma é que o sujeito ao olhar apreende o desejo do Outro e apreende-se nesse desejo.
Para tanto, vai nos dizer que é preciso insistir nisto:
[…] no campo escópico, o olhar está do lado de fora, sou olhado, quer dizer sou quadro.
É aí que está a função que se encontra no mais íntimo da instituição do sujeito no visível. O que me determina fundamentalmente no visível é o olhar que esta do lado de fora. É pelo olhar que entro na luz, e é do olhar que recebo seu efeito. Donde se tira que o olhar é o instrumento pelo qual a luz se encarna, e pelo qual – se vocês me permitem servir-me de um termo, como faço frequentemente, decompondo-o – sou foto-grafado.” (p.104).
Isto quer dizer que é a partir dai que o sujeito se constitui como imagem unificada e ao mesmo tempo se instaura uma fratura, uma bipartição, uma esquize do ser – nos diz Lacan.
Quinet – 1997 (1), vai apontar que:
“[…] para Lacan há a preexistência de um dado-a-ver. Lacan utiliza essa expressão para significar que, na relação inicial com o mundo, algo é dado-a-ver àquele que vê. Essa noção é fundamental para outros temas desenvolvidos por Lacan. A preexistência de um olhar é correlativa do dado-a-ver do sujeito. Em outras palavras, a pulsão indica que o sujeito é visto, que existe um olhar dirigido para o sujeito, um olhar que não podemos ver porque está excluído do nosso campo de visão. Este olhar nos dá a distinção entre aquilo que pertence à ordem imaginária e o que pertence à ordem do real, onde a pulsão se manifesta. O real pode ser definido como o registro em que a pulsão se manifesta: o que nos é mostrado e o que vemos pertence à ordem imaginária.” (p.155/156).
A seguir Lacan continua discorrendo sobre a questão da visão na filosofia, arte, ótica, fisiologia e outras ciências afins, para embasar a dicotomia entre o olho e o olhar e como a questão incide na formação do sujeito e na questão do desejo.
“[…] Vemos então aqui que o olhar opera numa certa queda, queda de desejo, sem dúvida, mas, como dizer? O sujeito não está aí de modo algum, ele é teleguiado. Modificando a fórmula que é a que eu dou para o desejo enquanto inconsciente – O DESEJO DO HOMEM É O DESEJO DO OUTRO – direi que é de uma espécie de desejo ao Outro que se trata, na extremidade do qual está o dar-a-ver.” (p.111)
A seguir Lacan aponta que irá explorar nas lições seguintes a questão da pulsão, e a incidência desta na formação do sujeito.
NOTAS E REFERÊNCIAS
- Feldstein, Richard e outros – Para ler o seminário XI de Lacan.