Retornei do XX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, que aconteceu em Belo Horizonte no mês de novembro/2014, com alguns livros na bagagem.
Entre eles, PRIMO LEVI- A Escrita do Trauma, de autoria da Doutora em Psicanálise, Lucíola Freitas de Macêdo, editado pela Subversos/2014.
Interessou-me este título, por ter lido alguns meses antes, o texto do próprio Primo Levi, editado em 1947, intitulado, É isto um homem? O qual trazia sua narrativa do vivido num campo de concentração nazista.
Leitura que me impactou pela forma como o autor descrevia o que tinha vivido.
Dra. Lucíola, diz que com este seu livro deseja compartilhar com o público mais amplo sua leitura das obras de Primo Levi, escritor italiano de origem judaica, confinado no Campo de Concentração de Buna-Monowitz – Complexo de Auschwitz, no período de 22/02/1944 a 27/01/1945.
Como sobre/vivente, alguém que viveu para tomar para si “um dever de memória”, como pontua Dra. Lucíola – sobre a desconstrução da humanidade de um homem. Com sua escrita prenhe de substratos sensoriais, olfativos, sonoros e visuais. Hannah Arendt (1963) vai afirmar que o nazismo, com sua “solução final”, visava eliminar todo o povo judeu.
A autora nos diz que para seu percurso de leitura escolheu como bússolas, conceitos lacanianos como a Coisa, a extimidade, o trauma e o Real, afirmando que:
“[…] Fiz questão de manter as tantas voltas dadas, as idas e vindas em torno de alguns significantes, sempre os mesmos, em sua inquietante opacidade, rodopios em torno desse “híbrido” de caroço, hiato, pedaço, efeito e buraco; do real-trauma e sua escrita, ora abordando como irrepresentável, ora como indizível ou inominável e, eventualmente, como inefável; mas que por um fugaz instante – Levi o atesta- com “ o grão da poesia no corpo”, foi possível fisgá-lo em um poema, tal como é possível notar à propósito de “Wstawac”, ou ainda ao modo do cientista, ao buscar a escrita de uma fórmula capaz de ordenar o real, ao inventar um novo conceito, um significante novo, como procedera a propósito da “zona cinzenta”.”
Ao tentar deslindar o conceito de Real na obra de Levi, Dra. Lucíola nos confronta com o Real como necessário, como impossível, como contingência.
Para nos mostrar que na obra de Levi, o Real como impossível é produto e resto da operação simbólica, o que nos leva “a irrupção do Real traumático como impossível de suportar”.
“[…]O trauma não é somente essa “uma única vez” que se produziu de maneira contingente, mas também o discurso do Outro que viria dizer, posteriormente, que esse trauma não existe.”
Fazendo assim irromper em Levi esses pedaços de Real, no corpo, a cada instante de sua vida; levando-o as minúcias da descrição do que foi viver “aquilo”, testemunho vivo de algo que jamais deve ser esquecido.
Cláudia Cristina Dadalt
Janeiro/2015.