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Cláudia Dadalt

Cláudia Dadalt

Psicóloga e Psicanalista

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III – DO SUJEITO DA CERTEZA

14 de outubro de 2020 by Sistema

Nem ser, nem não ser.

Finitude do desejo.

O evasivo.

O estatuto do inconsciente é ético.

Que tudo está por refazer na teoria.

Freud cartesiano O desejo da Histérica.

Lacan inicia falando que um de seus ouvintes, Jacques-Alain Miller, ao ouvir-lhe falar do inconsciente pela estrutura de uma hiância, reconheceu aí a “função estruturante de uma falta”, e a reuniu a função do desejo, como falta-a-ser. O que fez este interlocutor perguntar-lhe sobre sua ontologia (1), ao que Lacan diz que a questão não é inapropriada, dizendo que: “[…] é mesmo de uma função ontológica que se trata nessa hiância […] a função do inconsciente.”.

Iniciando o item um afirmando que a hiância do inconsciente, é pré-ontológica, e que a primeira emergência do inconsciente é de não se prestar a ontologia. Pontuando que, “[…] a quem quer que na análise acomode por um momento seu olhar ao que é propriamente da ordem do inconsciente, – é que ele não é nem ser nem não-ser, mas é algo de não-realizado.”

Adverte a seguir que evocou a função dos limbos e que não devemos esquecer que Freud já nos tinha prevenido quando iniciou a prática psicanalítica com o seguinte verso: Se não posso mover os deuses do céu, moverei o das profundezas.

Entretanto, mesmo em meio a essas advertências é notável, diz Lacan, que o que se seguiu foi assepticizado por algumas ciências que procuravam desvendar o comportamento humano.

O resultado de busca do inconsciente dirige a psicanálise à função limitada do desejo, “[…] O desejo, mais do que qualquer outro ponto do quinhão humano, encontra em alguma parte seu limite.”.

Lacan faz um alerta aqui, dizendo que falou do desejo e não do prazer. Porque o prazer visa a homeostase “[…] o desejo, este, encontra seu cerne, sua proporção fixada, seu limite, e é em relação a esse limite que ele se sustenta como tal, franqueando o limiar imposto pelo princípio do prazer.”.

Em seguida vai afirmar: “[…] O que é ôntico, na função do inconsciente, é a fenda por onde esse algo, cuja aventura em nosso campo, parece tão curta, é por um instante trazida a luz – por um instante, pois o segundo tempo, que é de fechamento, dá a essa apreensão um caráter evanescente.”.

Colocando a seguir que Freud na definição do inconsciente (2), ao falar do processo primário diz: “[…] – que o que se passa ali é inacessível à contradição, à localização espácio-temporal, bem como a função do tempo.”.

Chamando a atenção para a questão do desejo como indestrutível, pois este escapa a questão do tempo – “[…] o desejo não faz mais do que veicular para um futuro sempre curto e limitado o que ele sustenta de uma imagem de passado.”. Ao que se questiona: “[…] O desejo indestrutível, se ele escapa ao tempo, a que registro pertence na ordem das coisas?” De que tempo estamos falando, não será um outro modo de tempo, um tempo lógico (3), afirmando que já falou disto num escrito.

“[…] Reencontramos aqui a estrutura escandida desse batimento da fenda cuja função lhes evoquei da última vez. O aparecimento evanescente se faz entre dois ponto, o inicial e o terminal, desse tempo lógico – entre um instante de ver em que algo é sempre elidido, se não perdido, da intuição mesma, e esse momento elusivo em que, precisamente, a apreensão do inconsciente não conclui, em que se trata sempre de uma recuperação lograda.”

Concluindo que onticamente o inconsciente é o evasivo, que foi teorizado numa estrutural temporal jamais articulada até então.

Para iniciar o item dois faz uma advertência quando critica os pós-freudianos, que tomaram a Repetição no mesmo nível da transferência; “[…] Não digo que isto seja falso e que não haja repetição na transferência. Não digo que não tenha sido a propósito da transferência que Freud abordou a repetição. Digo que o conceito de repetição nada tem a ver com o de transferência.”

Enfatizando que irá seguir o passo lógico para colocar o conceito de Repetição, pois o cronológico nos traria certas ambiguidades porque, a repetição é teorizada através da experiência da transferência.

Desta forma vai afirmar que: “[…] o estatuto do inconsciente, que eu lhes indico tão frágil no plano ôntico, é ético (4).

Frágil no plano ôntico?

Sim, porque o inconsciente é marcado por seu estatuto de ser evasivo, inconsistente – é que ele não é nem ser nem não-ser, é algo de não-realizado.

Ético? Lacan vai advogar a respeito da ética de Freud; “[…] Freud, em sua sede de verdade diz – O que quer que seja, é preciso chegar lá – porque, em alguma parte, esse inconsciente se mostra.”

Freud se volta aqui para a experiência médica recusada e rejeitada; “[…] a da histérica, no que ela é – de algum modo, de origem – marcada pelo signo do engano.”

É o fato de ter se voltado para escutar a descontinuidade do inconsciente que leva Freud a sua descoberta de origem – o desejo da histérica.

“[…] Não é de modo impressionista que quero dizer que aqui seu encaminhamento é ético – não penso numa famosa coragem do cientista que não recua diante de nada, imagem a ser temperada, como todas as outras. Se formulo que o estatuto do inconsciente é ético, e não ôntico, é precisamente porque o próprio Freud não adianta isto quando dá seu estatuto ao inconsciente. E o que eu disse da sede de verdade que o anima é aqui uma simples indicação do traço das abordagens que nos permitirão perguntar-nos aonde foi a paixão de Freud.”

O salto teórico que Freud dá, o leva a Interpretação dos Sonhos (1905) , que no seu capítulo VII, traz um sonho que tem um modo diferente de ser analisado, porque traz suspenso um enigma angustiante, mostrando com este exemplo que o sonho pode ir além de ser a “imagem de um desejo”.

Para tanto Lacan reflete sobre:

“[…] o que une um pai ao cadáver de seu filho mais próximo, de seu filho morto. O pai sucumbindo ao sono vê surgir a imagem do filho, que lhe diz – Pai não vês que estou queimando.”. (5)

Ao que Lacan vai perguntar do que é que ele queima?

“[…] -senão do que vemos desenhar-se em outros pontos da topologia freudiana – do peso dos pecados do pai…”

Lembrando-nos aqui que Freud recorre ao pecado que o fantasma no mito de Hamlet carrega e que Freud o duplica com o mito de Édipo.

Assim Lacan afirma que: “[…] O pai, o Nome-do-Pai (6), sustenta a estrutura do desejo com a lei – mas a herança do pai […] é seu pecado.”

Lacan vai pontuar que o exemplo que Freud coloca nos leva para a discussão do esquecimento do sonho (7) e ao valor de sua transmissão pelo sujeito, chamando-nos a atenção para que: “[…] o termo maior, com efeito, não é a verdade, é Gewissheit – certeza. […] Trata-se daquilo de que se pode estar certo.”.

Lacan nos chama atenção aqui para o seguinte:

“[…] Para este fim, a primeira coisa a fazer é superar o que conota tudo que seja do conteúdo do inconsciente – especialmente quando se trata de fazê-lo emergir da experiência do sonho…”

Asseverando que aí não há certeza há dúvida. E é Freud que vai enfatizar que: -a dúvida é o apoio da sua certeza.

Para Lacan:

“[…] A função que ele (Freud) dá à dúvida resta contudo ambígua, pois esse algo que deve ser preservado pode ser também algo que tem que se mostrar – pois, de qualquer modo, o que se mostra só se mostra sob um Verkleidung, disfarce e postiço também, que pode não se aguentar. Mas o que quer que seja, eu insisto é que há um ponto em que se aproximam, convergem, os dois encaminhamentos, de Descartes e de Freud.”.

Em Descartes o vimos partir da dúvida para chegar no – Por pensar, eu sou, evitando debater o pensar, assegurando sua certeza no Outro – um Deus Perfeito, que porta a verdade.

O que para Freud será visto de forma diferente:

“[…] Freud, onde dúvida – pois enfim são seus sonhos, e é ele que, de começo dúvida – está seguro de que um pensamento está lá, pensamento que é inconsciente, o que quer dizer que se revela como ausente. É a este lugar que ele chama, uma vez que lida com outros, o eu penso pelo qual vai revelar-se o sujeito. Em suma, Freud está seguro de que esse pensamento está lá, completamente sozinho de todo o seu eu sou, se assim podemos dizer, – a menos que, este é o salto, alguém pensa em seu lugar.”.

Lacan vai nos trazer que para Freud, a certeza fundada no sujeito, se prende ao campo do inconsciente e temos que – o que visa o eu penso no que ele báscula para o eu sou, é um Real.

O que leva Lacan a afirmar que: “[…] É aqui que se revela a dissimetria entre Freud e Descartes. Ela não está de modo algum no encaminhamento inicial da certeza fundada no sujeito. Ela se prende a que, nesse campo do inconsciente, o sujeito está em casa. E é porque Freud lhe afirma a certeza que se faz o progresso pelo qual ele muda o mundo para nós.”.

Para tanto assevera que: “[…] já que sabemos que o que começa no nível do sujeito não é jamais sem consequência, com a condição de que saibamos o que quer dizer esse termo – o sujeito.”.  

Conclui que o sujeito do qual falamos aqui é o sujeito do inconsciente, e que este se manifesta, e que ele pensa antes de entrar na certeza, nos colocando um embaraço com o qual teremos que lidar.

Para tanto Lacan vai acentuar que não estamos mais na ordem do Outro enganador, mas na ordem do Outro Enganado.

E é isto que a experiência da análise nos mostra. Mas isto não preocupou Freud, como podemos ver sobre o que ele escreveu sobre o esquecimento dos sonhos, e nas análises de sonhos que Freud faz.

“[…] O inconsciente, nos diz ele, não é o sonho. Isto quer dizer em sua boca que o inconsciente pode se exercer no sentido do engano e que isto não tem para ele nenhum valor de objeção. Com efeito, como não haveria a verdade da mentira? – essa verdade que torna perfeitamente possível, contrariamente ao pretenso paradoxo, que eu afirme – Minto.”.

Lacan aponta para a análise que Freud faz de Dora (8) e da famosa homossexual (9), que ele (Freud) por falta de referências de estrutura, deixa de formular corretamente a questão do desejo, ao que Lacan irá destacar, “[…] ver que o desejo da histérica, […] é sustentar o desejo do pai – no caso de Dora, de sustenta-lo por, procuração.”.

Na análise da jovem homossexual, Lacan vai pontuar que a experiência da histérica vai levá-la a seguinte questão; “[…] o desejo do homem, é o desejo do Outro – é para o desejo do pai que a homossexual acha uma outra solução – esse desejo do pai, desafiá-lo.”.

Continua nos mostrando que até em seus sonhos a homossexual elabora um desafio concernente ao desejo do pai: “[…] o senhor quer que eu ame os homens, o senhor terá isto quanto quiser, sonhos de amor pelos homens. É o desafio em forma de derrisão.”.

Para tanto Lacan finaliza esse capítulo asseverando o seguinte:

‘[…] Só levei tão longe está abertura para lhes permitir distinguir o que é a posição do encaminhamento freudiano com relação ao sujeito – na medida em que é o sujeito que está interessado no campo do inconsciente. Distingui assim a função do sujeito da certeza em relação à procura da verdade.”

NOTAS E REFERÊNCIAS

1. Ontologia: parte da filosofia que tem por objeto o estudo das propriedades mais gerais do ser. Investigação teórica do ser. Heidegger vai falar do ser em si mesmo, em sua dimensão ampla e fundamental.
No plano ôntico o ser já está estabelecido, é o fenômeno aquilo que aparece.

2. Obras Completas de Sigmund Freud – O Inconsciente (1915) – Capítulo V – As características especiais do sistema Inconsciente – p. 191 – Imago 1996.

3. O tempo lógico e a asserção da certeza antecipada. In Escritos – Jacques Lacan – p. 197 – Zahar 1998.
Ver documento enviado: O que é o tempo lógico para Lacan – Falando Nisso 64 – Transcrição da fala de Cristhian Dunker em 30/10/2016.

4. Ético: significa tudo aquilo que está relacionado com o comportamento moral do ser humano e sua postura no meio social. Refere-se a ética, uma parte da filosofia que estuda os princípios morais que orientam a conduta humana, mediante uma escolha que possa afetar terceiros, a ética funciona como um guia que irá avaliar a escolha feita por cada pessoa..

5. A Interpretação dos Sonhos – parte II – In Obras Completas de Sigmund Freud – Capítulo VII – A psicologia dos processos oníricos – p. 541 – Imago 1996.

6. O conceito do Nome-do-Pai está no texto elaborado para apreensão deste com o título – A metáfora paterna.

7. Freud vai trabalhar o esquecimento dos sonhos em dois momentos da Interpretação dos Sonhos. No volume I – capítulo I – A Literatura Científica que trata dos problemas dos Sonhos após o despertar. E no volume II – capítulo VII – A Psicologia dos processos oníricos, no adendo A – O Esquecimento dos Sonhos – Imago 1996.

8. Obra Completas de Sigmund Freud – Volume VII – Fragmento da Análise de um caso de Histeria.

9. Obras Completas de Sigmund Freud – Volume XVIII – A Psicogênese de um caso de Homossexualismo numa mulher (1920).   

Arquivado em: Seminário XI

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