Cláudia Dadalt

Psicóloga e Psicanalista

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II – 0 INCONSCIENTE FREUDIANO E O NOSSO

Pensamento selvagem.

Só há causa daquilo que manca.

Hiância, tropeço, achado, perda.

A descontinuidade.

Signorelli.

Lacan abre esse capítulo com um poema de Louis Aragon (1), para fazer alusão ao seu seminário interrompido e relembrando o seminário dado no ano anterior – Seminário X – A angústia, onde discorreu sobre as diversas formas do objeto “a” e a função central e simbólica do menos fi (falo imaginário).

Lacan começa a parte um deste capítulo, fazendo uma crítica aos pós freudianos que deixaram de dar valor a “fala” dos seus analisantes, deixaram de dar valor a lógica significante.

Em seguida Lacan diz que vai privilegiar os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, a saber: o Inconsciente, a Repetição, a Transferência e a Pulsão. Lacan esclarece que para tanto, vai recusar a noção de conceitos universais e portadores de significado. 

Explica que vai adotar a seguinte forma de apresentação dos quatro conceitos. Primeiro vai abordar os conceitos de Inconsciente e Repetição. Para depois trabalhar a Transferência que irá nos introduzir na prática psicanalítica, visando o manejo da técnica analítica. Pontuando que o conceito de Pulsão, por ser de difícil compreensão será o último a ser abordado. 

Expondo sua concepção de conceito, nos diz que o mesmo é sempre estabelecido por aproximações que tem relação com o cálculo infinitesimal. Nesse sentido, para ele, só podemos abordar o conceito por uma “…aproximação da realidade que ele foi feito para apreender, só por um salto, por uma passagem ao limite, é que ele chega a se realizar.” (pag.25)

Para tanto, aponta que os “termos” – Sujeito e Real – contribuem para nos levar a questão já colocada de se a psicanálise apesar dos seus aspectos paradoxais, singulares e inconclusivos, pode ser considerada uma ciência.

Desta forma inicia o item II, com a seguinte formulação para o Inconsciente: 

“…o inconsciente é estruturado como uma linguagem.” (pag,25)

Esclarece que isto hoje nos é mais acessível que no tempo de Freud, pois hoje temos acesso a saberes científicos que não estavam delineados à época de Freud; por exemplo a Linguística, na qual Claude Lévi-Strauss, estrutura e elabora o que ele denominou de Pensamento Selvagem.

Lévi-Strauss vai dizer que o pensamento selvagem, não é um pensamento dos “selvagens” ou dos “primitivos” em oposição ao pensamento “ocidental”, mas o pensamento em estado selvagem, isto é, o pensamento humano em seu livre exercício, um exercício ainda não domesticado em vista da obtenção de um rendimento. O pensamento selvagem não se opõe ao pensamento científico, como duas formas ou duas lógicas, minimamente exclusivas. Sua relação é antes uma relação entre gênero (o pensamento selvagem) e espécie (o pensamento científico). Ambas as formas se utilizam dos mesmos recursos cognitivos, o que as distingue é, diz o linguista, o nível do real a qual eles se aplicam: o nível das propriedades sensíveis (caso do pensamento selvagem) e o nível das propriedades abstratas (caso do pensamento científico).

Lacan nos leva para a linguística, para nos fazer compreender que algo organiza o campo das relações humanas, nele inscrevendo as linhas de forças iniciais, trazendo a luz a questão da verdade totêmica, função classificatória primária mostrada por Lévi-Strauss, assim descrito por Lacan:

“…Antes ainda que se estabeleçam relações que sejam propriamente humanas, certas relações já são determinadas. Elas se prendem a tudo que a natureza possa oferecer como suporte, suportes que se dispõem em temas de oposição. A natureza fornece, para dizer o termo, significantes, e esses significantes organizam de modo inaugural as relações humanas, lhes dão as estruturas, e as modelam.” (pag.26)

O importante, completa Lacan: “…é que vemos aqui o nível em que antes de qualquer formação do sujeito, de um sujeito que pensa, que se situa aí – isso conta, é contado, e no contado já está o contador. Só depois é que o sujeito tem que se reconhecer ali, reconhecer-se ali como contado.” (pag.26)

Neste ponto Lacan se remete a Jean Piaget (1896/1980), que teorizou sobre os estágios de desenvolvimento cognitivo no ser humano, mostrando como se dá o período pré-lógico do pensamento, e Lacan exemplifica: “…Tenho três irmãos, Paulo, Ernesto e eu. Mas é muito natural – primeiro são contados os três irmãos, Paulo – Ernesto e eu, e depois há o eu no nível em que se diz que eu tenho que refletir o primeiro eu, quer dizer o eu que conta.” (pag.26)

Lacan segue pontuando que: “…Hoje em dia, no tempo histórico em que estamos de formação de uma ciência, que podemos qualificar de humana, mas que é preciso distinguir bem de qualquer psicossociologia, isto é, a linguística, cujo modelo é o jogo combinatório operando em sua espontaneidade, sozinho, de maneira pré-subjetiva –  é esta estrutura que dá seu estatuto ao inconsciente.” (pag.26). Afirmando para tanto que é esse jogo combinatório entre significante/significado (2), que garante que há sob o termo inconsciente, algo de qualificável, de acessível, de objetivável. Neste ponto, Lacan nos coloca que, gostaria de nos tentar fazer apreender o conceito freudiano – Inconsciente.

Indicando que dará um privilégio especial a “função da causa” do Inconsciente.

  Lacan recorre a Kant para indicar que no ensaio sobre as grandezas negativas, “…podemos sacar como é bem aproximada a hiância que, desde sempre, a função da causa oferece a todo saque conceitual. Neste ensaio, quase se diz tratar-se de um conceito, no fim das contas, inanalisável – impossível de compreender pela razão, se é que a regra da razão, é sempre alguma comparação ou equivalente – e que sobra essencialmente na função da causa uma certa hiância, termo empregado no prefácio de Kant.” (pag.27)

Temos que nos deter aqui para compreender este termo: HIÂNCIA, que podemos designar como:

  1. Uma falha entre a falta a ser e o complemento materno.
  2. Que mostra uma grande abertura.
  3. Considerado como o intervalo entre o que não existe e o que está prestes a existir; conceito que caracteriza algo pré-ontológico que não é nem ser, nem não ser, tratando-se de alguma coisa ainda não realizada ou inexistente. 

Lacan, frisa neste momento que a causa sempre foi um embaraço para os filósofos, pois os mesmos, se apoiam em Aristóteles e as quatro causas (3). Pontuando que por mais que Kant tenha trabalhado a questão da causa, “…a causa não é por isso racionalizada.”. (pag.27)

Para em seguida afirmar:

“…Ao contrário, cada vez que falamos de causa, há algo de anti-conceitual, de indefinido. As fases da lua são a causa das marés- quanto a isto, é claro, sabemos nesse momento que a palavra causa está bem empregada. Ou ainda, os miasmas são a causa da febre – isto, também, não quer dizer nada, há um buraco, e algo que vem oscilar no intervalo. Em suma, só existe causa para o que manca.”. (pag.27)

O que manca? O Inconsciente freudiano, afirma Lacan, dizendo que é neste ponto que ele quer que olhemos, que, entre a causa e o que ela afeta, há sempre claudicação. 

Para afirmar a seguir que não é importante que o inconsciente determine a neurose, nem Freud deu atenção a isto. O que nos importa é que: 

“…o inconsciente nos mostra a hiância por onde a neurose se conforma a um real – real que bem pode, ele sim, não ser determinado.”. (pag.27)

E nessa hiância – abertura do inconsciente, alguma coisa acontece. Neste ponto Lacan questiona: “…Essa hiância, uma vez cosida sua boca, estará curada a neurose?” (pag.27)

Dando-nos a seguinte resposta a seguir: “…Antes de mais nada, a questão está aberta. Só que a neurose se torna outra coisa, as vezes simples enfermidade, cicatriz, como nos diz Freud – não cicatriz da neurose, mas cicatriz do inconsciente.”. (pag.27)

Para em seguida apontar que está nos guiando através dos textos freudianos, que parte – da A Etiologia da Neuroses (4) – que nos mostra que ele acha no buraco, na fenda, na hiância característica da causa algo que é da ordem do não realizado.

Lacan aponta que apesar da recusa histórica quanto ao conceito do inconsciente que Freud teorizou, recusa essa que faz com que não se saiba mais do que se está falando. 

     Ele – Lacan, fala do Inconsciente freudiano.

“…O inconsciente, primeiro, se manifesta para nós como algo que fica em espera na área, algo de não-nascido.”, e coloca que o recalque acrescenta algo mais a essa teorização, não é de se estranhar, nos diz, comparando a relação do recalque e o inconsciente, a fazedora de anjos(5) com os limbos(6), para advertir-nos a seguir:

“…Esta dimensão seguramente deve ser evocada num registro que não é nada de irreal, nem de desreal, mas de não-realizado. Nunca é sem perigo que se faz renascer algo nessa zona de larvas, e talvez seja mesmo a posição do analista – se ele a ocupa de verdade – deve ser sitiado – quero dizer, realmente – por aqueles em quem ele evocou esse mundo, realmente – por aqueles em quem ele evocou esse mundo de larvas sem ter podido sempre trazê-las a luz. Nem todo discurso é aqui inofensivo – o discurso mesmo que pude manter esses dez anos encontra nisso alguns desses efeitos. Não é à toa que, mesmo num discurso público, se visem os sujeitos, e que se os toque naquilo que Freud chama o umbigo – umbigo dos sonhos(7), escreve ele para lhe designar, em último termo, o centro incógnito – que não é mesmo outra coisa, como o próprio umbigo anatômico que o representa, senão essa hiância de que falamos.” (pag.28).

Lacan termina esse tópico fazendo uma crítica aos analistas das segunda e terceira gerações, colocando-nos que os mesmos como ativos ortopedeutas se dedicaram a psicologizar a teoria psicanalítica. 

Ao iniciar o tópico três, Lacan coloca sua posição de introduzir no domínio da causa – do inconsciente – a lei do significante, no lugar onde essa hiância se produz. Colocando que é preciso tornar a evocar o conceito de inconsciente no tempo em que Freud o forjou, sendo necessário levar essa conceituação ao seu limite. 

Para tanto, afirma que o inconsciente freudiano não tem nada a ver com as formas de inconsciente que o precederam, cita alguns autores, para que possamos ir as fontes averiguar que estes simplesmente designam o não consciente. E coloca que o próprio Freud, no sétimo capítulo da Interpretação dos Sonhos (Vol. V – nota de rodapé 1- pag. 559 – Imago 1996), já traz essa constatação ao citar o filósofo Eduardo Von Hartmann, ao que Lacan sustenta: “…quer dizer que é preciso olhar isso mais de perto para designar o que, em Freud, se distingue.” (pag.29)

Destaca a seguir que Freud já se referia aos jogos do significante – no capítulo VII, da Interpretação dos sonhos, volume V, adendo A – o esquecimento do sonho. Lembra-nos Lacan, que Freud soletrou ponto por ponto, o funcionamento do que ele produziu como fenômeno do inconsciente. 

“…No sonho, no ato falho, no chiste – o que é que chama atenção primeiro? É o modo do tropeço pelo qual eles aparecem. Tropeço, desfalecimento, rachadura. Numa frase pronunciada, escrita, alguma coisa se estatela. Freud fica siderado por esses fenômenos, e é neles que vai procurar o inconsciente. Ali alguma outra coisa quer se realizar – algo que aparece como intencional, certamente, mas de uma estranha temporalidade. O que se produz nessa hiância, no sentido pleno do termo produzir-se, se apresenta como um achado. É assim, de começo, que a exploração freudiana encontra o que se passa, no inconsciente.” (pag.30). 

Um achado e ao mesmo tempo uma solução, não acabada, mas com um toque de – como Freud já havia chamado – a surpresa.

“…aquilo pelo que o sujeito se sente ultrapassado, pelo que ele acaba achando ao mesmo tempo mais e menos do que esperava – mas que, de todo modo, é, em relação ao que ele esperava, de um valor único.” (pag.30). 

Sendo que esse achado – quando se apresenta, é um reachado, que estará sempre pronto a escapar de novo, o que vem instaurar a dimensão da perda. 

Aqui Lacan vai se servir do mito (8) de Euridíce (9) – duas vezes perdida, para metaforizar a relação do analista – comparando este a Orfeu (9), com o inconsciente. 

Para seguir dizendo que a forma essencial que o inconsciente como fenômeno nos aparece, é a descontinuidade – na qual alguma coisa se manifesta como vacilação. 

Ao que vai questionar a seguir:

“…Ora, se essa descontinuidade tem esse caráter absoluto, inaugural, no caminho da descoberta de Freud, será que devemos colocá-la – como foi em seguida a tendência dos analistas – sobre o fundo de uma totalidade?” (pag.30), e completa sua questão, perguntando se o um é anterior à descontinuidade?

Para afirmar que não, porque aí cairíamos na referência do psiquismo invólucro – ideia que Lacan sempre repudiou – “…uma espécie de duplo do organismo onde residiria essa falsa unidade.” (pag.30).

Assim, convida-nos a concordar com ele, que: “…o um que é introduzido pela experiência do inconsciente é o um da fenda, do traço, da ruptura.” (pag.30). 

Informando que aqui brota uma forma desconhecida do um, o Un – do Unbewusste – inconsciente. Pontua que o limite do Unbewusste é o Unbegriff – não o não-conceito, mas o conceito da falta. 

Para indicar que a ruptura, a fenda, o traço, da abertura faz surgir a ausência, a faz surgir como silêncio.

“…Se guardarem na mão esta estrutura inicial, vocês se conterão de se livrar a tal ou tal aspecto parcial do que se trata no que concerne ao inconsciente – como, por exemplo, de que é o sujeito, enquanto alienado na sua história (eixo da Diacronia), no nível em que a síncope do discurso se conjuga com o seu desejo. Vocês verão que, mais radicalmente, é na dimensão de uma sincronia (deslizamento de significantes, S1, S2, S3…), que vocês devem situar o inconsciente – no nível de um ser, mas enquanto pode se portar sobre tudo, isso é, no nível do sujeito da enunciação, enquanto segundo as frases, segundo os modos, se perdendo como se encontrando, e que, numa interjeição, num imperativo, numa invocação, mesmo num desfalecimento, é sempre ele que nos põe seu enigma, e que fala – em suma no nível em que tudo que se expande no inconsciente se difunde, tal o micelium (10), como diz Freud a propósito do sonho, em torno de um ponto central. Trata-se sempre é do sujeito enquanto que  indeterminado.” (pag.31)

Encaminha sua fala para a questão do Recalque – Oblivium é lévis – O esquecimento é leve, é o que apaga. O quê? O significante enquanto tal, aqui reencontramos a estrutura de base que torna possível, de modo operatório que alguma coisa tome a função de barrar, este é o nível mais primordial, estrutural, do que o Recalque, a esta estrutura de base, elemento operatório do apagamento, Freud designou de censura. 

Para demonstrar como essa censura funciona, recorre ao exemplo freudiano do esquecimento do nome próprio – Signorelli (11):

“…o esquecimento, o tropeço da memória, concernente à palavra Signorelli após sua visita à pintura de Orvieto, será possível não ver surgir do texto mesmo, e se impor, não a metáfora, mas a realidade do desaparecimento, da supressão, da Unterdrückung, da passagem por baixo? A palavra Signor, Herr, passa por baixo – o senhor absoluto, eu disse uma vez, a morte, para dizer tudo, desaparece ali. E, também será que não vemos, lá detrás perfilar-se tudo que Freud necessita para encontrar nos mitos da morte do pai a regulação de seu desejo? Antes de mais nada, ele se reencontra com Nietzsche para enunciar, no mito dele, que Deus está morto.  E é talvez sobre o fundo das mesmas razões. Pois o mito de que Deus está morto – do que eu estou de minha parte, bem menos convencido, como mito entendam bem, do que a maioria dos intelectuais contemporâneos , o que não é de modo algum uma declaração de teísmo nem de fé na ressureição – este mito talvez seja apenas abrigo que se achou contra a ameaça de castração.” (pag. 31/32)

Para indicar a seguir que a questão do esquecimento de Freud se trata apenas do fim da potência sexual e da morte. 

Assim finaliza esse capítulo asseverando que: 

“…O inconsciente se manifesta sempre como o que vacila num corte do sujeito – donde ressurge um achado que Freud assimila ao desejo – desejo que situaremos provisoriamente na metonímia desnudada do discurso em causa, em que o sujeito se saca em algum ponto inesperado.” (pag.32).

NOTAS E REFERÊNCIAS

1. Louis Aragon (Paris – 1897/1982). Escritor francês, dadaísta e um dos pioneiros do surrealismo, aderiu ao partido comunista, ilustrando seus romances com temas marxistas. Foi um dos poetas mais populares da resistência, afirmou que o amor é absoluto.

2. Com Freud vimos que o inconsciente tem dois mecanismos básicos de funcionamento: a condensação e o deslocamento. Ao que Lacan vai interpretar como análogos às figuras linguísticas da metáfora e da metonímia e a seguir vai afirmar que: “o inconsciente é estruturado como uma linguagem”. Tomando as ideias de Saussure sobre o signo linguístico, este linguista vai definir o signo linguístico como: uma unidade composta de duas partes – Significado/Significante, dizendo que estes são uma união de um conceito e uma unidade acústica, unidade marcada pelo caráter indissociável de suas partes componentes, com a primazia do significado.  

Lacan irá apropriar-se desta teoria para subvertê-la da seguinte forma: coloca aqui que a primazia é do significante, portanto – Significante/Significado, sendo que a barra indica uma autonomia do significante com relação ao significado. Indica duas ordens distintas, interpondo-se entre ambas uma barreira resistente à significação. A cadeia dos significantes é, ela própria produtora de significados, assim impõe que nenhum significante possa ser pensado fora de sua relação com os demais. O significante não tem por função representar o significado, mas ele precede e determina o significado. Somente as correlações do significante com o significante fornecem o padrão de qualquer busca de significado.

Lacan vai afirmar que: um significante representa um sujeito para outro significante.

3. Aristóteles irá pensar as causas do ser (matéria e forma) e de sua transformação (potência e ato), sendo que: Potência é a possibilidade de vir a ser – Ato é a manifestação atual do ser. E as quatro Causas de Transformação dos seres são:  

Causa Material: aquilo do que o ser é feito, essência do ser, sem ela o ser não é. Por exemplo, se pensarmos em uma estatua podemos dizer que sua essência é o mármore.

Causa Formal: a forma a qual se apresenta o ser. Se seguirmos o exemplo acima, a Vênus do Nilo.

Causa Eficiente ou necessária: agente que atua na     transformação. Necessariamente presente para que a forma alcance seu objetivo. Seguindo o exemplo acima, aqui colocamos o escultor.

Causa Final: o objetivo, a finalidade, alvo a ser alcançado. Seguindo o exemplo, aqui colocamos a ornamentação.Freud, Sigmund – Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas – Vol. III – A Hereditariedade e a Etiologia das Neurose (1896) – pag. 141 – Imago 1996.

5. A Fazedora de Anjos – Tríptico (1908), de Pedro Weingartner. O tríptico é um quadro dividido em três painéis – um central e fixo, e os outros dois laterais e móveis, ligados ao central por dobradiças ou gonzos.  O pintor usa sua obra para fazer uma crítica social, no caso deste quadro enfoca a questão do aborto (fazedora de anjos) e o abandono de crianças.

6. Limbo: segundo a teologia cristã, é um conceito escatológico presente, por exemplo na igreja católica, que identifica os que permanecem “a margem da presença de Deus”.

7. “…Existe pelo menos um ponto em todo sonho ao qual ele é insondável – um umbigo, por assim dizer, que é seu ponto de contato com o desconhecido.” (Freud (1900) – Vol. IV – pag.146 – sonho de Irma – nota de rodapé 2 – Imago 1996). No volume V, da Traudeuntung, vamos encontrar à página 557 o seguinte: “…Mesmo no sonho mais minuciosamente interpretado, é frequente haver um trecho que tem de ser deixado na obscuridade; é que, durante o trabalho de interpretação, apercebemo-nos de que há nesse ponto um emaranhado de pensamentos oníricos que não se deixa enredar e que, além disso, nada acrescenta a nosso conhecimento do conteúdo do sonho. Esse é o umbigo do sonho, o ponto onde ele mergulha no desconhecido. Os pensamentos oníricos a que somos levados pela interpretação não podem, pela natureza das coisas, ter um fim definido; estão fadados a ramificar-se em todas as direções dentro da intricada rede de nosso mundo do pensamento. É de algum ponto em que essa trama é particularmente fechada que brota o desejo do sonho, tal como o cogumelo de seu micélio.”.

8. Mito: o mito é uma forma de relatar o impossível da estrutura. O mito pode se apresentar como um rito que visa a organização da realidade a partir da experiência sensível enquanto tal. Podemos identificar nos mitos três funções: a) Função explicativa: o presente é explicado por alguma ação passada, cujos efeitos permanecem no tempo; b) Função organizativa: o mito organiza as relações sociais (de parentesco, de alianças, de trocas, de sexo, de identidade, de poder, etc…), de modo a legitimar e garantir a permanência de um sistema complexo de proibições e permissões; c) Função compensatória: o mito narra uma situação passada, que é a negação do presente e que serve tanto para  compensar os humanos de alguma perda, como para garantir-lhes que um erro passado foi corrigido no presente, de modo a oferecer uma visão estabilizante e regularizada da natureza e da vida comunitária.

9. Orfeu, filho de Apolo e da musa Calíope. Himeneu foi convocado para abençoar com sua presença o casamento de Orfeu e Eurídice, mas embora tivesse comparecido, não levou consigo augúrios favoráveis. Sua própria tocha fumegou, fazendo lacrimejar os olhos dos noivos. Coincidindo com tais prognósticos, Eurídice, pouco depois do casamento, quando passeava com as ninfas, suas companheiras, foi vista pelo pastor Aristeu, que, fascinado por sua beleza, tentou conquistá-la. Ela fugiu e, na fuga, pisou em uma cobra, foi mordida no pé e morreu. Orfeu cantou seu pesar para todos quantos respiram na atmosfera superior, deuses e homens, e, nada conseguindo, resolveu procurar a esposa na região dos mortos. Desceu por uma gruta situada ao lado do promontório de Tenaro e chegou ao reino do Estige. Passando através de multidões de fantasmas, apresentou-se diante do trono de Plutão e Prosérpina, e implorou por Eurídice. Prosérpina não pode resistir e o próprio Plutão cedeu. Eurídice foi chamada. Orfeu teve permissão de levá-la consigo, com uma condição: a de que não se voltaria para olhá-la, enquanto não tivessem chegado à atmosfera superior. Nessas condições os dois saíram, Orfeu caminhando na frente e Eurídice atrás, quando Orfeu, num momento de esquecimento, para certificar-se de que Eurídice o estava seguindo, olhou para trás, e Eurídice foi, então, arrebatada. Estendendo os braços, para se abraçarem, os dois abraçaram apenas o ar! Eurídice morre pela segunda vez.  (In: O livro de Ouro da Mitologia – Thomas Bulfinch)

10. Micélio: é a parte vegetativa de um fungo, colônia bacteriana que consiste em uma massa de ramificação formada por um conjunto de hifas emaranhadas. É também responsável por carregar nutrientes até onde o fungo necessita e faz processos de simbiose com algumas espécies. A hifa é um longo e ramificado filamento que em conjunto com outras hifas forma o talo de um fungo.

11. Freud – Sobre a Psicopatologia da Vida Cotidiana (1901) – Vol. VI das Obras Completas – Capítulo I – O Esquecimento de Nomes Próprios – página 19 – Imago/1996.

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