Freud – 1925 – Vol. XIX – das Obras Completas. Editora Imago.
No presente artigo Freud vai explicitar suas teorias sobre o desenvolvimento psicológico das mulheres. Apesar de que, desde 1905 (Três Ensaios) já trazia que: “[…] a vida sexual dos homens se tornou acessível à pesquisa. A das mulheres […] ainda se encontra mergulhada em impenetrável obscuridade.”.
Jones (1955) vai lembrar que Freud disse a Marie Bonaparte: “A grande questão que jamais foi respondida e que ainda não fui capaz de responder, apesar de meus trinta anos de pesquisa da alma feminina, é: O que quer uma mulher?.”.
Freud inicia falando que a análise dos neuróticos lida com o período mais remoto da infância, época da eflorescência sexual.
“[…] Apenas examinando-se as primeiras manifestações da constituição pulsional inata dos pacientes e os efeitos de suas primeiras experiências, que de fato podemos avaliar com exatidão as forças motivadoras que levaram à sua neurose […]”.
Freud coloca que ao examinar a vida sexual das crianças o fazia do ponto de vista masculino, supondo que o lado feminino fosse semelhante.
Apontando neste texto que: “[…] elas tenham, não obstante, de ser diferentes.”.
Nos meninos o complexo de Èdipo é o primeiro estádio possível de ser identificado. Nesse estádio a criança retém o mesmo objeto que previamente investiu com sua libido (a mãe), nessa situação, encara o pai como um rival perturbador e gosta de se ver livre dele e tomar seu lugar junto à mãe. A atitude edipiana nos meninos pertence à fase fálica, sua destruição é ocasionada pelo temor à castração. Para o menino o complexo de Édipo possui uma orientação dupla – ativa, identificação ao pai – passiva, o menino também deseja tomar o lugar de sua mãe como objeto de amor de seu pai.
Nas meninas, a mãe também é o objeto original. Na menina, o complexo de Édipo tem uma longa pré-história e constitui uma formação secundária. O processo se inicia quando a menina descobre a inferioridade de seu órgão em relação ao pênis do menino. Considera-se castrada. Dessa ocasião em diante cai vítima da inveja do pênis.
“[…] A menina faz seu juízo e toma sua decisão num instante. Ela o viu, sabe que não tem e quer tê-lo.”.
Freud vai dizer que com esta postura a menina entra no complexo de masculinidade, que deve ser superado suficientemente cedo, ou trará consequências. Sendo que a evidência da castração lança a menina no Èdipo. As consequências da inveja do pênis para a menina:
1) Sentimento de inferioridade;
2) Deslocamento da inveja do pênis para o ciúme (fantasia da criança espancada);
3) Afrouxamento da relação afetuosa com a mãe;
4) Oposição à masturbação;
(eliminação da sexualidade clitoridiana constitui precondição necessária para o desenvolvimento da feminilidade)
“[…] Seu reconhecimento da distinção anatômica entre os sexos força-a a afastar-se da masculinidade e da masturbação masculina, para novas linhas que conduzem ao desenvolvimento da feminilidade.” (Vol. XIX – pag. 284)
5) A inveja do pênis desliza para a equação pênis-criança.
“[…] abandona seu desejo de um pênis e coloca em seu lugar o desejo de um filho; com este fim em vista, toma o pai como objeto de amor. A mãe se torna objeto de seu ciúme. A menina transforma-se em uma pequena mulher.” (284)
Freud conclui a partir de suas análises, que nas meninas, o complexo de Édipo é uma formação secundária. As operações do complexo de castração o precedem e preparam. O complexo de castração inibe e limita a masculinidade e incentiva a feminilidade.
Quanto ao desaparecimento do complexo de Édipo, na menina, Freud coloca que ele não é claro, acrescentando que os efeitos do complexo continuam a se fazer sentir muitas vezes, na vida mental normal da mulher, cujo super eu nunca será tão inexorável, tão impessoal, tão independente de suas origens afetivas.
“[…] Cuando Freud dice que no es seguro que las mujeres tengan um superyó, no significa que ellas hagan cualquier cosa (aunque a veces suceda, pero no sólo a ellas), sino que lo que actúa em el lugar del superyó, em lo que el lhama la mujer – y que Le resulta um mistério-, es La prevalencia del amor.”. ( J. A. Muller – Los divinos detalles – pg. 242).
DISTINÇÃO ANATÔMICA:
►♂ Nos meninos→ castração ameaçada→ faz em pedaços o complexo Édipo→ super eu torna-se seu herdeiro.
►♀ Nas meninas→ castração foi executada→ força a criança a situação do complexo de Édipo→ pode: lentamente ser abandonado, ou sofrer repressão→ os seus efeitos persistem na vida mental das mulheres→ super eu dependente de suas origens emocionais.
Para Lacan o Complexo de Édipo atribui posições simétricas ao pai e a mãe que não são suas, em função disto não utiliza essa representação triangular edípica e vai falar de Metáfora Paterna.
“… Ele chama de “Nome-do-Pai” a função simbólica paterna, ou seja, aquilo que constitui o princípio eficaz do Édipo, e mostra que o “Desejo da Mãe” é mandado para as profundezas pelo “Nome-do-Pai”, levando a operação a um significado – o falo – e isso para os dois sexos.” ( Chemama. 1995. Pg. 57).
Para tanto conclui que a função do Édipo é promover a castração simbólica.